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The Killing

Segunda-feira, 28.04.14

Não vejo muita televisão, sobretudo porque há poucas coisas que me prendam a atenção. Há tanto para detestar nas programações dos vários canais que acabei por desistir de acompanhar o que quer que seja...faz-me mal ao coração. Mas de vez em quando aparece qualquer coisa que nos faz pensar que afinal vale a pena ligar o aparelho. The Killing, com as duas primeiras temporadas a passar no FOX Crime, é um desses casos.

 

Feito a partir de um original dinamarquês, chamado Forbrydelsen (O Crime), tem uma tradução para a realidade anglófona que está bem conseguida. Ajuda com certeza o facto de ser gravado no Canadá, país onde a luz poderá encontrar um paralelismo com os ambientes escandinavos. Seja como fôr, a liguagem não é a das séries americanas do costume, a começar por toda a imagem dos actores/ personagens. A abordagem habitual ao aspecto físico dos participantes é uma das razões porque deixei de acompanhar séries como CSI e afins...eles podem ser médicos, polícias, bombeiros ou modelos de passerelle...vestem-se todos da mesma maneira, vão ao mesmo cabeleireiro, fazem as mesmas madeixas e maquilham-se nos melhores salões de beleza. Faz sentido? Para mim, não. Para mim, descridibiliza por completo o trabalho do actor - quando ele existe - e impede uma coisa que já foi quase sagrada mas que parece estar esquecida nas produções ficcionais dos últimos 20 anos - suspension of disbelief (suspensão da descrença, um termo que remete a 1817, quando o poeta e filósofo esteta Simon Taylor Coleridge primeiro o definiu como o processo segundo o qual o autor conseguia infundir no espectador uma perspectiva humana e uma semelhança com a verdade numa narrativa ficcionada, fazendo com que  este último suspendesse a capacidade de julgar a implausibilidade da narrativa). Se o ónus já esteve no autor, nas últimas décadas ela passou a ter de estar no espectador. Para mim, não faz qualquer sentido que assim seja...mas enfim.

 

Voltando ao The Killing...aqui não há top models nem celebridades. O sucesso do produto não depende de nomes sonoros, de CGI aos molhos e  de camadas de maquilhagem. Depende da qualidade da equipa que o produz, e assim deveria ser sempre. Também não recorre ao golpe baixo (literalmente) de tirar as cuecas a umas quantas personagens para satisfazer os nossos instintos mais voyeristas. Há uma ou outra cena de sexo, sim, quando se justifica e nunca revelando mais do que o necessário. Acima de tudo, não têm o propósito de estimular sexualmente o espectador, mas de lhe contar uma parte da história como qualquer outra. Refrescante. Os polícias também não parecem ansiosos em saltar para a cama uns dos outros, para ir mantendo a atenção do espectador enquanto se varia de parceiro (sim, eu sei, sou eu que sou muito reprimida...) - acima de tudo, querem apanhar o culpado, querem fazer justiça, querem trabalhar. Revolucionário.

 

Só cá temos as duas primeiras temporadas, mas segundo a crítica as que lhe seguiram não valeram grande coisa...bom, não vi, não posso falar. Mas se vos interessa um produto diferente do habitual, uma história que prenda a atenção sem recorrer às acrobacias do costume, um grupo de actores que nos fazem esquecer que são actores ao fim de 2 ou 3 minutos...então vejam o The Killing. É tempo bem gasto.

 

 

 

 

 

 

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Querida Mãe

Sexta-feira, 25.04.14

A minha mãe faria hoje, dia da Liberdade, 78 anos. É difícil imaginá-la com essa idade, e se calhar faz sentido que assim seja - ela nunca quis que a víssemos senão jovem. Não é uma crítica, é um facto. Era uma mulher que nunca passava despercebida, mais que tudo porque era mesmo diferente das demais...as outras mães que me perdoem (e eu incluo-me nelas), mas quando Deus a fez, partiu o molde. É uma força de expressão, claro (Deus faz-nos a todos dessa maneira) e não quero com isto dizer que era uma mulher perfeita, mas não escolheria nenhuma outra para me carregar nos braços. E de alguma maneira, mesmo nas falhas, tinha qualquer coisa de comovente...não sei explicar. Tinha um feitio que oscilava entre o sanguíneo e o melancólico, o que fazia dela muitas vezes uma pessoa imprevisível. Para uma criança, isto nem sempre é bem vindo...mas hoje sou adulta, e já consigo entender bem melhor o que a movia. Uma das coisas que me lembro dela é que não odiava ninguém. Ficava muitas vezes profundamente magoada, mas não lhe vislumbrei um pingo de ódio em relação a esta ou aquela pessoa - e olhem que houve muitos que lhe fizeram mal, normalmente os que lhe estavam mais próximos. Não, não era perfeita. Ainda assim, daria metade de mim para que ela não tivesse ido tão cedo. Na altura, foi um golpe maior do que achei que conseguiria suportar. Hoje, é um golpe maior do que consigo suportar. Mas suporto. Afinal, a voz dela está muitas vezes nos meus sonhos, e ainda hoje, quando digo a palavra Mamã, vem-me à memória a mistura de cheiros que sempre lhe senti na pele. Foi-se a pessoa inteira, mas Deus deixou-me guardar uns pedaços no coração...

 

O livro Mãe Há Só Uma, compilado pela Diamantina Rodrigues em 2013 e editado pela Verso de Kapa, reuniu uma série de testemunhos de fuguras públicas acerca da sua mãe. Transcrevo hoje uma parte do texto que escrevi:

 

«Há 44 anos  que trago comigo a imagem de outra mulher, e a comparação nunca me favoreceu. A Mamã era mais, era mais que qualquer outra, e tinha palavras que enchiam o coração das pessoas. E era mesmo do seu coração que provinham as saídas da vida para nós, os filhos, para a família, os amigos, para todos os que na sua presença pareciam menos brilhantes, mais previsíveis...foi do seu coração que me amamentou, e gostávamos as duas tanto desse nosso ninho que o abraço durou 5 anos. Que aberração, pensam alguns...que bênção, digo eu.

São também 5 os filhos que deu ao Mundo, que o 6º ficou por nascer. E sabendo disso, cresce a minha admiração por si, não porque as melhores mães têm muitos filhos, mas porque cada filho que nos nasce leva um pouquinho de nós com ele– sabia que no cérebro do bebé se escondem células da própria mãe? - coisas que nunca nos serão devolvidas, e esses pedaços com que lhe ficámos, a Mamã nunca lhes sentiu a falta. Antes parecia ficar mais de si depois de cada parto – e que difíceis que foram todos, até ao último!

Não falámos muito as duas, mas sei que teve sonhos que nunca cumpriu. Sei que quase sempre fez o que outros queriam que fizesse, e que no dia em que decidiu que tudo ia ser diferente, muitos pensaram mal de si. Eu, por exemplo. Perdoe-me, mãe. Por favor compreenda que tudo o que um filho pequeno quer é que a mãe fique sempre igual, que nunca mude, que nunca se mostre independente ou completamente autónoma, e muito menos que pense em sair, em desaparecer, em fechar  a porta atrás de si e nunca mais pensar em nós. Por favor compreenda que eu não compreendia.»

 

Não compreendia, de facto...e acho que, de certa maneira, nem ela compreendia. Agora percebo à distância que as mães se sentem muitasvezes divididas em porções ínfimas e indistintas, que os seus corações sentem coisas que não podem exprimir, e que essa não-expressão é ao mesmo tempo coisa certa e coisa errada...acima de tudo, gostava de poder dizer-lhe isto a ela, e não a vocês...

 

Maria Helena era o seu nome, e um dos cantores de que sempre gostou foi Nat King Cole...por isso, fiz esta colagem de fotos que representam quase 54 anos de vida. Feliz Aniversário, mãe!

 

 

 

 

 

Today is Freedom Day, and my Mother would be turning 78. It's hard to imagine her at that age , and maybe it makes sense that it is so - she never really wanted to be anything but young. It's not criticism, it's a fact .

She was a woman who never went unnoticed , most of all because she was so different from all  the others ... myself included. When God made ​​her, He broke the mold. It's a figure of speech, of course ( God allways breaks the mold) and I don't mean to say that she was perfect, but I wouldn't choose any other to hold me in her arms. And somehow, even when she failed us or anyone else, there was something moving about her... I can't explain. Her nature was somewhat impetuous and melancholic, which made her a very unpredictable person. For a child, this isn't always easy... but now I'm older , and I can understand her better. One of the things I remember most about her is that she didn't hate anyone. She was often deeply hurt but others, and many times they were the ones that were closer to her, but there wasn't an ounce of hatred towards this or that person. But she sure wasn't perfect. Still, I'd give half of me so that she wouldn't have left so soon...at the time , it was a bigger blow than I thought I could bear. Today , it is a bigger blow than I think I can bear. But I bear it. After all , her voice is often in my dreams, and still , when I say the word Mom , the mixture of scents that made her skin always comes to mind. Gone is the whole person, but God left me with some bits of her in my heart ...
 
The book We Have Only One Mother, compiled by Diamantina Rodrigues in 2013 and edited by Verso da Kapa, convened a series of testymonies of celebrities and their mothers. Here's part of the text I wrote :
 
"For 44 years I've borne the image of another woman, and the comparison has never favored me. Mom was more, much more than any other, and she always had words that filled people's hearts. It was from your heart, Mother, that everything you did has flowed, and it was from it also that we have all proceeded...In your presence everyone seemed less bright, more predictable. It was also from your heart that you nursed me , and we both liked our nest so much that our hug went on for five full years. An aberration, some think...a blessing, I say.


Five babies came into the world through you. Knowing this my admiration grows, not because the best mothers have with many children, but because every time a child is made, the mother gives up a little bit of herself - did you know that the baby's brain holds a portion of his mother's own cells ? - These pieces we lose forever, but you never seemed to be missing them, and there always seemed to be more of you to give away after each one of us was born - and how difficult were those births, until the very last one!


We didn't talk much about these things, but I do know you had  dreams that were never fulfilled. Mostly, you did what was expected of you  and when the day came that you decided it wasn't going to be like this anymore, many people judged you. I was one of them. Please forgive me, Mother. Please understand that all a child wants is for their mother to never change, to never show complete independence and autonomy, let alone to think of turning around, closing the door, and leaving us behind. Please understand that I did not understand.»


It's true, I didn't. In fact...I think that in some way neither did she. At a distance now, I realize that realize that mothers often feel like they're being split into so many different directions, in tiny little indistinct portions, and their hearts are filled with things they can't express, and that that silence is both wrong and right...above all, I wish I could be telling her this, and not you.
 
Maria Helena was her name , and Nat King Cole was one of her favorite singers... so I made ​​this little photo collage that represents nearly 54 years of life. Happy Birthday , Mom!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A Voz

Quarta-feira, 16.04.14

Hoje é Dia Mundial da Voz! Aposto que não sabiam...não me admira, a voz é daquelas coisas que nunca valorizamos, até a perdermos. Mas acreditem que, tanto literal como figurativamente, é dos nossos maiores tesouros. A voz fala sem que nós queiramos, cala-se quando precisamos dela, parece ter vida própria quando nos emocionamos ou quando tentamos esconder algo que nos amedronta. É o escape de um instrumento maior que é o Corpo, outro bem que, graças à influência no pensamento moderno de algumas filosofias orientais e até do pensamento grêgo clássico, aprendemos muitas vezes a desvalorizar. Aquela cena do: o que é do corpo é básico, o que é da mente é elevado...não, não vem do Judeo-Cristianismo. Aliás, bem vistas as coisas, tanto o Judaísmo como o Cristianismo colocam o corpo numa posição de grande importância e destaque, de mãos dadas com o espírito. No caso dos Cristãos, acreditamos até que a eternidade não será vivida só em espírito, mas num corpo redimido. Mas adiante...hoje é Dia Mundial da Voz! A propósito disto, vou falar-vos da Associação Portuguesa de Locutores, que podem encontrar aqui...

 

A APL faz hoje 2 anos, mas já nasceu há mais tempo nos intentos e corações de alguns resistentes desta área. Falo do Alfredo Brito, do Bruno Ferreira, do Augusto Seabra, do Paulo José...mas não só. Somos quase 30 neste momento, e já perdemos alguns pelo caminho. É tarefa dura, e com potencial para muitos desentendimentos, esta de organizar artistas. Se o meu passado sindicalista no SNPVAC me preparou para lidar com algumas contrariedades próprias de mobilizar e moralizar um conjunto informe e heterogéneo de gente, nada se compara ao esforço de reunir debaixo do mesmo guarda-chuva de ética e profissionalismo perfis tão díspares como os que se encontram nesta área. Mas faz-se...e a propósito desta dificuldade, e do que poderá estar na origem dela, alguém me enviou pelo Facebook uma mensagem que ilustra bem a necessidade de nos agarrarmos a determinados valores e princípios, sob pena de desvirtuarmos por completo a nossa profissão que é tão significativa e importante. Vou transcrever:

 

«Creio que a algumas pessoas faltou terem uma professora primária como a minha que, dum modo infantil e simples fazia formação cívica. Aplicada a esta conversa ela contou uma vez a história das vendedoras de limões no mercado que vendiam cada uma 5kg de limões diariamente a 10 escudos o quilo. Até que um dia uma decidiu querer vender mais que as outras e baixou para 5 escudos o quilo. Não me querendo alongar, é óbvio que a história acabou com todas a venderem os mesmos 5kg diários, mas a 1 escudo o quilo. Moral da história dizia ela: a ganância a todos prejudica.»

 

Esta professora deveria ter recebido um prémio, por entender que é desde pequeno que se forma a consciência do Homem de que sem os outros conseguimos muito pouco, ideia que se abandonou em favôr de outro tipo de preocupações mais individualistas. Apela-se para o Eu e o Meu, e esquecemo-nos que o Nós é a base da própria sociedade, e que esta só perde quando tenta desvalorizar a virtude do associativismo. Passou a ser coisa de comuna (perdoem-me a expressão pejorativa). Como em termos de ideologia política cada vez me interessam menos os nomes dos partidos e mais o que eles de facto praticam - e já parece impossível de ignorar que o sistema não é democrático, mas sim plutocrático - não posso deixar de afirmar que precisamos de mais união nas nossas fileiras. Precisamos de união no trabalho, na família, na igreja, nas diferentes esferas em que cada um se move  e onde afirma a sua identidade. Precisamos de coesão e essa implica sacrifício - muitas vezes do que eu penso, do que eu quero, do que eu planeio - e essa, meus caros, é uma palavra que está muito fora de moda. 

 

Obrigada, Deus, por me teres tornado tão démodé.

 

Ah, querem ver o vídeo da APL? Ok

 

Já agora, hoje à noite vou estar no 5 Para a Meia-Noite do Markl. Apareçam.

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