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Moralidade

Terça-feira, 20.05.14

Ontem aconteceu-me uma coisa que, parecendo pequena, me fez pensar durante muito tempo - ao ponto de querer escrever isto. Eu conto:

Ao parar por 15 minutos numa rua de Lisboa que só tem lugares com parquímetro, fiz o que a maioria faz - paga pelo bilhete da EMEL. O que ia fazer, fiz rápido e quando me meti no carro para voltar para casa nem se tinham esgotado ainda os minutos a que tinha direito. Manobrei para sair do lugar onde estava e fiz-me à estrada. Não tinha ainda feito 20 ou 30 metros e vi um senhor que gesticulava na minha direcção, no meio da rua. Intrigada, abrandei a marcha e desci a janela. Era um homem de talvez 30 anos, bem vestido e educado, que assim que eu parei o carro me perguntou: a senhora estava estacionada? Respondi que sim. E tem o ticket? Sim. Podia dar-mo? Aqui parei um segundo, não mais, tendo chegado à conclusão que me pedia para fazer aquilo que não era de todo novo para mim: quando não uso todos os minutos do recibo é normal dá-lo a outros condutores que estejam a chegar. Estendi o bilhete e nem perguntei mais nada. Mas ele continuou, enquanto eu já me preprava para avançar com o carro e dar a conversa por encerrada: é que bloquearam-me o carro e eu quero ligar para lá e dizer que tinha o bilhete no carro mas que estava fora de vista...

Aqui já demorei um bocado a processar, e fi-lo enquanto dava um sorriso amarelo e entrava na estrada principal, ainda meio distraída com o que acabava de ouvir. O senhor não tinha pago, mas como lhe tinham bloqueado o Mercedes ele ia ligar para lá e mentir. Com o meu bilhete. Com a minha ajuda. Com a minha conivência e cumplicidade. O estômago ia ficando cada vez mais embrulhado conforme eu ia entendendo como a distração nos pode ligar aos actos que por princípio desaprovamos. Ao ler isto, calculo que muitos de vós já estejam a revirar os olhos e a pensar - mas a mulher está parva? Qual é o problema de enganar a EMEL? Eles não tramam a gente tantas vezes? Bom, pode até ser, mas se eu não sei ter a integridade de voltar atrás e dizer Desculpe, mas eu não participo desses esquemas porque me chateia a burla (ou o que lhe quiserem chamar) mesmo quando é perpetrada contra uma empresa pela qual não nutro especial simpatia, que direito tenho eu de reclamar quando alguém me tentar burlar a mim? Quando alguém me mentir na cara? Quando alguém me quiser enfiar o barrete? Nenhum, meus caros, nenhum. E não me entendam mal - este post não é uma maneira de eu puxar as orelhas ao dito senhor pela internet...eu também já fiz muita trapalhada deste género, mas não quero é fazer mais, nem ajudar outrem a fazê-lo. Este post é para puxar as orelhas, sim, mas a mim mesma. Por não me lembrar dos meus valores, por não honrar os meus princípios, por não ter a coragem de, quando falho, voltar atrás e emendar o mal. Ele está feito, e isso lixa-me.

 

P.S. E esta agora lembrou-me as palavras do apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: «Miserável homem que eu sou; quem me livrará do corpo desta morte?» Pois.

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1 comentário

De Vereda a 21.05.2014 às 22:34

Deixa lá... O fulano até podia ter-te mentido, mas disse a verdade [que mais não fosse para mostrar que era espertalhão]. Quanto ao Mercedes, pode nem pertencer-lhe... LOL

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