Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]





calendário

Janeiro 2014

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031

Arquivo/ Archive

2014

2013




Pesquisar/ Search

 



Fashion e outras tendências

Terça-feira, 21.01.14

Este mês sou a personalidade convidada pelo Magazine Tendências da La Redoute para dar o meu testemunho quanto à presença da marca na minha vida. Não foi difícil: desde há muitos anos que o catálogo entrou na casa da família. Um dos comentários que mais tenho ouvido é o facto de ter sido através do catálogo que certas marcas se tornaram mais acessíveis para muitos - eu incluída. A escolha é imensa, e agora mais do que nunca, os descontos são generosos e bem vindos. Mas porque falo eu disto? Porque fiz um trabalho e quero que saibam disso? Porque alguém me obriga por contrato a fazê-lo? Nada disso. Para além do facto de gostar de trabalhar - gosto mesmo - o dia que passei com esta equipa foi muito compensador. Claro, sabe bem voltar a ser modelo por um dia - se calhar por isso, porque foi só um dia ; ) - e ser maquilhada e vestida e, pronto, fazer de boneca. Mas para além de tudo isto, há uma lição a aprender. 

 

Fui de coração um bocado apertado para este dia. Chovia imenso, a viagem de carro é comprida, não tinha dormido muito bem - enfim, na minha cabeça passavam muitas ideias ao mesmo tempo, e as inseguranças parvas de quem se acha fora de prazo aos 44 anos para fazer de miúda gira numa sessão de moda. A atestar essas inseguranças, esperavam-me roupas que, por minha culpa, eram demasiados grandes para o corpo que as iria vestir. A minha amiga e stylist Elisa d'Almeida, do blog A Beleza É Um Lugar Estranho (e que foi responsável pelo styling enquanto estive no Mais Mulher), já me aturou muitas destas e sabe do que estou a falar...mas a minha dismorfia não era bem o problema, nem o que mais me preocupava. 

 

Fui modelo durante uns anos (entrei na Central em 1989, mas já trabalhava desde 1987), e algumas das minhas memórias ligadas aos trabalhos que fiz têm muito a ver com um certo ambiente de trabalho que não considero muito saudável. Há muitas pessoas envolvidas, muitas cabeças, muitas sentenças, e principalmente durante os almoços ou jantares não raro se ouviriam conversas pouco edificantes, com maledicência e outros tiques que, de uma maneira ou de outra, todos acabávamos por partilhar, quase por osmose. Sei que isto não acontece só na moda: ao fim e ao cabo, quando as pessoas têm de conviver com gente que mal conhecem acabam por tentar nivelar a coisa pelo denominador comum mais básico de todos: o disparate. 

Quem me conhece sabe que, quando deixada à solta, posso ser a mais disparatada de todos. Esta foi aliás a minha arma durante os anos difíceis do liceu, para lidar com um certo sentido de estranheza que me fazia muitas vezes pensar que para ser aceite tinha de fazer os outros rir. Agora, a anos-luz dessa realidade de outrora e já sem a mesma necessidade premente que sentia de agradar aos outros em detrimento do que sabia ser certo e errado, ainda assim dou por mim a querer preencher espaços vazios de conversa com brincadeiras e piadinhas. Um mau hábito que agora detesto.

 

Por tudo isto, ia um pouco preocupada com o que ia encontrar, que pessoas ia conhecer, o que esperavam de mim, que lhes podia eu dar que não fôsse contra aquilo em que acredito, como podia fazer um bom trabalho sem me sentir obrigada a comprometer nada do que creio ser essencial e importante. Parece cansativo, não parece? E é. Decidi entregar estes pensamentos na mão de Deus e acreditar que o que foi não tem de voltar a ser, que o meu passado não tem de condicionar o presente nem o futuro. Decidi confiar.

 

Encontrei pessoas dedicadas, profissionais, atenciosas, solidárias, compreensivas e acessíveis, que todas juntas formavam uma equipa coesa ainda que heterogénea nas idades e experiências de vida. Tivemos uma sessão prazeirosa e produtiva, que nos deixou a todos (creio) com um sentido de dever cumprido e apreciado na sua totalidade, até mesmo na hora do almoço. Falámos de tudo um pouco, partilhámos recordações de adolescência, músicas  e referências comuns e diversas, conversámos sobre filhos, casamentos e namoros, discutimos o futuro e o presente, escutámo-nos uns aos outros e meditámos em conjunto sobre coisas como a educação, o trabalho, o dinheiro, as realidades rurais e urbanas...enfim, fomos humanos sem nunca baixarmos a fasquia. Estou grata a Deus por isso.

 

A La Redoute está de parabéns, e o motivo não acaba nas ofertas do catálogo. Está de parabéns porque pode contar com gente como a que conheci, profissionais de mão-cheia, que todos os dias fazem um excelente trabalho que, tendo um intuito claramente comercial, traz à luz a melhor parte de todos nós. E não chateia nada que, de caminho, me tenham posto tão bonita!

 

Cá vai o link:

 

http://www.laredoute.pt/magazinedetendencias/

 

E aqui está o vídeo:

 


 

I was invited by La Redoute, a french fashion catalogue, to be their Guest of the Month on their webpage and talk about how the brand has been a part of my life. It wasn't too far of a strech: their magazine came to Portugal many years ago, and since then it has been in our household on and off. Most of the people I talk to tell me the same thing: their catalogue was the first to give them a shot at getting some of the more famous brands we aspired to at decent prices. They always have great discounts on most of the items. But why am I talking about this? Because I want you to know that I did a job for them? Because I'm bound by contract to talk about it? Not at all. I am glad that I did get a job - I actually enjoy working - and the day I spent with the crew was great. Of course, it feels good to be a model again for one day - maybe because it was just for one day ; ) - and to put on some make-up and have someone do my hair, and choose great clothes for me, to play doll, basically. But beyond all of this girly stuff, there's a lesson to learn.

 

I went into the job with a certain heaviness in my chest. It was raining hard, the car ride was kind of long, I hadn't slept very well - my head was full of thoughts and concerns, stupid insecurities tipical of someone that thinks being 44 years old make you a bit long in the tooth to play cute girl on a photo shoot. To prove my point, I had racks of clothes that were a size or two too big for my body...my good friend Elisa d'Almeida (her blog is A Beleza É Um Lugar Estranho) did my styling while I hosted a show in a cable channel here in Portugal and she knows all about that. But my dysmorphia wasn't really the problem, nor was it the thing that concerned me the most. 

 

I was a model for years (I joined Central Models in '89, but I'd been working since '87) and some of the memories I have of the shoots I was in are connected to a certain working environment that I don't consider very healthy. There're a lot of peole on site, too many heads and opinions, and the red zone was normally attained by lunch time. By that time i usually got involved in conversations that weren't too edifying, a lot of malice and tongue-in-cheek comments, and almost by osmosis most of us ended up talking too much. I know this doesn't just happen in fashion: after all, when people have to be around people that they don't know too well but have to be familiar with they end up lowering their level to the most basic commom denominator: nonsense. And I was the queen of nonsense. Those who do knew me back in the day can say that, when let loose, I could be the silliest one of all. This was my weapon of choice back in high-school, a period of my life that still makes me shiver when I go past the building, in a time where my awkwardness made me try to make others laugh so I could fit in. Now, light-years from that reality and no longer feeling a real urge to please others at the cost of what I believe is right or wrong, I still find myself wanting to fill those blanks in conversation with little silly jokes. I habit I now detest.

 

For this reason, I went into this job concerned about what I was going to find there, what kind of people I'd have to work with, what they expected of me, what I could give them that wouldn't compromise the things I value as important. It seems tiring, doesn't it? It is. I decided to surrender all these thoughts to God, to believe that what was doesn't have to be so again, that my past doesn't have to condition or shape my present and my future. I decided to trust. 

 

I found dedicated, professional, attentive, understanding and approachable people, and together they formed a cohesive team even if they differed in age and life experiences. We had a very productive and pleasurable shoot, that left us all (I believe) with a feeling of job well done and enjoyed in its entirety, even at lunch time. We talked about everything, we shared common memories from the 80's and 90's, songs we danced to and bands we admired, diverse impressions of mutual recollections, we talked about children and marriage, about dating and commitment, we discussed the future and the present, we listened to each other and meditated together on things like education, work, money, rural and urban realities, differences that ended up connecting us all somehow. We were human without ever lowering our standards. I thank God for that.

 

La Redoute does a great job, but this time I'm not praising their selection of clothes and accessories: I'm praising their human capital, people in their payroll that do more than just work to increase sales at a certain quarter. Who they are as people adds immensely to the value of the company, and everyone should be aware of that. And yes, it doesn't hurt that they made me look great in the process!

Autoria e outros dados (tags, etc)

3 comentários/ # commments

De J.Grilo a 21.01.2014 às 23:50

Obrigado pela simpatia. Foi um dia excelente!

De luz a 22.01.2014 às 12:07

o passado condiciona o presente. vivi anos presa, mas deixei para trás e confiei.

És bonita, mesmo cota.;-)

De Cátia Carriço a 23.01.2014 às 16:48

Olá Adelaide!
Que bom ler as tuas palavras! :) Muito obrigada pelo carinho, pela simpatia, enfim, pelo dia fantástico que partilhamos todos. São dias assim, que provam, que fazer aquilo que gostamos, de alma e coração, vale mesmo a pena e é tão bom:)

Um grande beijinho, em nome de toda a equipa!

Cátia Carriço | Glow Fashion Prod.

Comentar post/ comment post



Comentários recentes/ Recent comments